Um certo homem tinha dois filhos, e o mais moço deles disse ao pai: – Pai, dá-me da porção do teu tempo, da tua atenção, da tua companhia e do teu conselho que me pertencem.
E ele repartiu entre eles a sua fazenda, dando ao rapaz tudo de que precisava e enviando-o às melhores escolas. Assim julgava estar cumprido o seu dever para com ele. E, poucos dias depois, o pai ajuntou todos os seus interesses, aspirações e ambições e partiu para uma terra longínqua cheia de coisas que não interessavam a um menino, e ali ele desperdiçou a preciosa oportunidade de ser tornar camarada de seu filho.
E, quando ele já tinha gasto a melhor parte de sua vida e tinha ganho dinheiro, surgiu uma grande fome em seu coração e ele começou a padecer necessidade de verdadeira camaradagem. E chegou-se a um dos clubes daquela terra, do qual o fizeram presidente; e desejava encher o seu coração com as bolotas que os seus companheiros comiam e nenhum deles lhe dava uma amizade verdadeira.
E, tornando em si, disse: – Quantos pais têm filhos que eles compreendem e que são por eles compreendidos, que se associam aos seus filhos e parecem perfeitamente felizes em sua companhia, e eu aqui pereço de fome da amizade de meu filho!
Levantar-me-ei e irei ter com meu filho, e dir-lhe-ei: – Filho, pequei contra o céu e perante ti! Já não sou digno de ser chamado teu pai: fazer-me como a um dos teus conhecidos. E, levantando-se, foi para seu filho e quando ainda estava longe viu o seu filho e se moveu de espanto, e ao invés de correr e lançar-se-lhe ao pescoço, procurou esquivar-se.
E o pai disse: – Filho, pequei contra o céu e perante ti e já não sou digno de ser chamado teu pai. Perdoa-me e faze-me um amigo teu. Mas o filho lhe disse: – Eu desejaria que isso fosse possível, mas agora é muito tarde. Houve tempo em que desejava saber as coisas, quando eu ansiava por sua camaradagem e conselho, mas o senhor estava muito ocupado. Essas coisas encontrei fora, mas elas me foram perniciosas. Assim, arruinei a minha alma e o meu corpo e não há nada que o senhor possa fazer por mim.
É tarde…sim, é muito tarde.
(Autor desconhecido)
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