Um dos aspectos que mais aprecio nas narrativas bíblicas é poder olhar para vida de seus personagens e comparar com a nossa própria, e assim tirar lições, ajustando eventualmente nosso procedimento. Ou quem sabe até nossos valores.
No livro de Atos e nas suas epístolas temos um farto material para conhecer sobre a vida de apóstolo Paulo. Não são poucos os exemplos que ele nos dá, como sua dedicação, zelo para com Deus, amor aos irmãos, entre tantos outros.
Queria destacar em particular uma passassem das Escrituras que detalha a fonte de seu sustento logo que chegou a Corinto:
“…ficou morando e trabalhando com eles, pois eram fabricantes de tendas. Todos os sábados ele debatia na sinagoga, e convencia judeus e gregos” (At 18:3,4)
Ou seja, por um período de tempo a rotina de Paulo consistia em trabalhar durante a semana para se manter, e aos sábados evangelizar na sinagoga local.
A primeira vista pode parecer que a passagem faz apologia do obreiro que se sustenta com seu próprio trabalho. Ainda que isso não seja algo errado, estudando o texto em mais detalhes percebe-se que não é esse o ponto central, e certamente não é esse o principal modelo de sustento dos pastores e missionários ensinado nas demais passagens das Escrituras. Considere, por exemplo, a visão do próprio apóstolo sobre sustento:
• Aquele que “está sendo instruído na palavra” deve partilhar “todas as coisas boas com quem o instrui” (cf Gl 6:6);
• Ou ainda, que Paulo e seus companheiros tinham “o direito de ser sustentados” pelas comunidades a quem ministravam (cf 1 Co 9.12)
A despeito desse direito, Paulo comenta em várias passagens que sua motivação em trabalhar para se sustentar era não “ser um peso” para a igreja local (1 Ts 2:9, 2 Ts 3.8).
O texto de 1 Co 9:14, 15a é um bom resumo: “Da mesma forma o Senhor ordenou àqueles que pregam o evangelho, que vivam do evangelho. Mas eu não tenho usado de nenhum desses direitos.”
Para a maioria de nós que não “vive do evangelho”, como podemos aplicar este ensino? Considere que a atitude de Paulo é abrir mão de seus direitos para viabilizar a evangelização da comunidade de Corinto. E abrir mão daquilo que é nosso por direito, em prol do reino, é algo que todos nós podemos e devemos fazer:
• Com o nosso tempo, quando após uma semana de trabalho cansativo priorizamos a participação na programação da igreja e não apenas nosso lazer e descanso;
• Ao nos engajamos como voluntários em algum dos muitos ministérios que estão carentes de obreiros (não se engane: falta de tempo normalmente é falta de prioridade);
• Com nossos recursos materiais, consumindo menos de maneira a termos mais recursos para investir na obra do Senhor;
• Abrindo mão de ganhar uma discussão quando o ganho for menos relevante que o risco de “perder o irmão”.
É grande a lista dos direitos dos quais podemos abrir mão. Mas lembre-se que você eventualmente vai estar perdendo algo nesta vida transitória para ganhar algo de maior valor na vida eterna. Não lhe parece um bom negócio?
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